A flexibilização do trabalho transformou a dinâmica corporativa com a consolidação dos modelos híbrido e remoto. No entanto, a Norma Regulamentadora 1 (NR-1) estabelece que o gerenciamento de riscos ocupacionais deve abranger todos os riscos, independentemente do local onde a atividade é executada.
Isso exige que o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) ultrapasse os limites físicos do escritório. O foco agora deve incluir, com prioridade, a gestão da saúde mental remota e os riscos psicossociais.
Neste artigo, vamos abordar os riscos psicossociais no trabalho híbrido e remoto, apontando como o PGR deve se adaptar para monitorar esses novos ambientes e o que o RH deve fazer para garantir o acolhimento.
Resumo do conteúdo para gestores
- Modelo remoto não isenta a empresa; o empregador responde juridicamente pela saúde e segurança do ambiente laboral, mesmo no home office.
- Foco na NR-1 e PGR: O Programa de Gerenciamento de Riscos deve ser atualizado para incluir riscos “invisíveis”, como isolamento e dificuldade de desconexão.
- Ergonomia: Além de cadeiras e equipamentos, a gestão deve mitigar a hiperconexão e microgerenciamento (NR-17).
- Inventário de Riscos: RH precisa garantir que o documento contemple as especificidades do trabalho à distância.
- O Canal de Acolhimento é uma ferramenta essencial para eliminar a “zona cega” do trabalho remoto, captando sinais de burnout e conflitos que não aparecem nas reuniões de vídeo.
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O Risco Ocupacional no Ambiente Remoto: O Que a NR-1 Exige
Os colaboradores da sua empresa trabalham em Home Office ou em modelo híbrido? Saiba que a mudança geográfica ou padrões de trabalho que fogem ao padrão tradicional (presencial, das 8h às 18h) não isenta a empresa de responsabilidades legais sobre a saúde do colaborador.
A legislação brasileira entende que o empregador mantém o poder diretivo e, consequentemente, a responsabilidade sobre o ambiente laboral, mesmo no teletrabalho, segurança e saúde. A NR-1 atualizada exige a identificação de perigos e a avaliação de riscos ocupacionais de forma contínua.
Para o RH, isso significa que as obrigações de segurança do trabalho no home office são tão críticas quanto as presenciais. A falta de controle sobre o ambiente doméstico não justifica a omissão no mapeamento de riscos.
Dessa forma, a empresa deve demonstrar que instruiu, forneceu equipamentos e, principalmente, monitorou as condições de trabalho à distância.
Risco Psicossocial: O Maior Desafio do Trabalho Remoto
No modelo remoto, os perigos físicos são visíveis, mas os mentais podem ser silenciosos. Os riscos psicossociais do teletrabalho mais comuns incluem o isolamento social, a dificuldade de desconexão (hiperconexão) e a sobrecarga de tarefas domésticas e profissionais simultâneas.
Esses fatores são classificáveis como riscos ocupacionais. Se não forem gerenciados, podem evoluir para uma doença ocupacional grave, como a Síndrome de Burnout ou a depressão.
Portanto, o PGR da empresa deve prever mecanismos para identificar esses sinais antes que o afastamento médico seja a única solução.
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A Nova Ergonomia: De Cadeiras a Conexões (NR-17 e NR-1)
A ergonomia no teletrabalho vai muito além de fornecer uma cadeira adequada ou um suporte para notebook. A NR-17, conectada às diretrizes da NR-1, aborda a ergonomia cognitiva e organizacional.
No modelo híbrido ou remoto, o RH deve mitigar fatores que geram sobrecarga mental, tais como:
- Ritmo e Produtividade: Pressão excessiva por metas inalcançáveis e exigências de produtividade desajustadas;
- Gestão Tóxica: Microgerenciamento e a sensação de vigilância constante à distância;
- Hiperconexão: Reuniões consecutivas sem pausas e invasão do tempo de descanso.
Todos esses pontos são passíveis de fiscalização e devem ser tratados como riscos ergonômicos para garantir a conformidade legal.
O PGR do Home Office: Mapeamento e Documentação (GRO)
A adaptação do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) para a realidade da flexibilização também deve refletir a realidade de quem não está presencialmente no escritório todos os dias.
Por isso, o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) deve ser constantemente revisto e aprimorado. O RH precisa garantir que o Inventário de Riscos contemple as especificidades do trabalho à distância, servindo de base para o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).
O Inventário de Riscos e o Fator “Isolamento”
Documentar riscos invisíveis exige técnica. No Inventário de Riscos, o fator “isolamento” ou “estresse por teletrabalho” deve ser classificado com seu respectivo nível de risco e probabilidade.
Sem essa documentação, a empresa fica vulnerável juridicamente. Caso um colaborador desenvolva um transtorno mental, a existência do risco no inventário, sempre acompanhado de um plano de ação, é a prova de que a empresa atuou na prevenção, quebrando o nexo causal direto por negligência.
Ações de Prevenção e Controle (Comprovação para a Fiscalização)
Para mitigar os riscos listados, o RH deve implementar ações verificáveis. Reuniões quinzenais de alinhamento, webinars sobre saúde mental online e treinamentos sobre gestão do tempo são evidências de cuidado.
Essas ações provam à fiscalização que a gestão de riscos está ativa. É fundamental registrar a participação dos colaboradores e manter esses registros organizados como parte da documentação de SST.
Estratégias de Escuta Ativa para o Trabalho Híbrido
Para monitorar a saúde mental à distância, é necessário implementar canais estruturados e tecnicamente capacitados para captar o que as reuniões de vídeo não mostram.
Isso quer dizer que demonstrações de que a saúde mental não vai bem podem se esconder atrás da tela: fisionomia cansada, mudança de humor repentina ou o isolamento em ambientes comuns.

Com a flexibilização do trabalho e a utilização de ferramentas como e-mail, WhatsApp, Teams/Slack, a comunicação entre RH e colaborador e entre liderança e seu time pode estar focada na operação e na entrega.
Nesses ambientes, impera a necessidade de parecer produtivo e disponível. O colaborador raramente expõe vulnerabilidades, sobrecarga ou situações de assédio moral nesses canais, temendo julgamentos ou retaliações.
Essa lacuna cria uma “zona cega” para o RH. Riscos psicossociais graves podem estar corroendo a equipe sem que a gestão tome conhecimento. Quando o problema finalmente “aparece”, geralmente é tarde demais, manifestando-se como turnover inesperado, afastamento pelo INSS (B91) ou processos trabalhistas.
O que é o Canal de Acolhimento e como ele pode se apresentar como uma Solução Segura para o Colaborador
Diferentemente de um canal de denúncias ou de uma simples pesquisa de clima, o Canal de Acolhimento surge como a ferramenta mais potente para a adequação à nova NR-1.
Trata-se de um canal sigiloso e confidencial, disponível 24 horas por dia, 365 dias no ano. Seu grande diferencial é a condução: o atendimento é realizado 100% por uma equipe de psicólogos-ouvidores.
Esses profissionais são treinados para realizar uma escuta ativa e técnica, lidando com situações como:
- Ansiedade e estresse agudo;
- Conflitos interpessoais e de liderança;
- Sobrecarga de trabalho e dificuldade de desconexão;
- Questões pessoais que impactam o desempenho profissional.
Embora não configure psicoterapia, o atendimento segue as diretrizes éticas da psicologia. O colaborador recebe orientação imediata, acolhimento e caminhos para resolução, tudo registrado em prontuário interno sigiloso.
Do Acolhimento à Inteligência de Dados (PGR)
Para o RH e a gestão de Segurança do Trabalho, o Canal de Acolhimento oferece um valor estratégico duplo.
- Cuidado Individual: Oferece suporte imediato ao colaborador, reduzindo o risco de agravamento de quadros mentais.
- Inteligência Coletiva: O canal transforma sentimentos em dados de compliance. Ele gera dados estruturados e anonimizados sobre as principais demandas emocionais da empresa.
Esses dados funcionam como um termômetro emocional da organização. O RH passa a saber, por exemplo, se um departamento específico tem altos índices de relatos sobre “liderança agressiva” ou sintomas condizentes com burnout.
Com essas informações em mãos, a empresa pode tomar decisões baseadas em dados, ajustando rotas e implementando medidas preventivas no PGR antes que o adoecimento ocorra. É a transição de um RH reativo para uma gestão proativa e humanizada.
O Canal de Acolhimento permite que o RH identifique focos de tensão e riscos psicossociais precocemente. É a ferramenta ideal para garantir que, mesmo com a flexibilização do trabalho, o colaborador se sinta assistido e a empresa mantenha o compliance com a NR-1.
Conclusão: Bem-Estar e Conformidade Legal em Tempos de Flexibilização
A gestão ativa do risco psicossocial é a única forma de evitar passivo trabalhista e multas por falha na aplicação da NR-1. Bem-estar e conformidade legal devem andar juntos na estratégia de flexibilização do trabalho.
Ao adaptar o PGR e oferecer ferramentas de escuta, o RH protege a empresa e valoriza a equipe.
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FAQ
O que é flexibilização do trabalho?
É a adoção de modelos de contratação e jornada que fogem ao padrão tradicional presencial das 8h às 18h. Inclui modalidades como o home office integral, o trabalho híbrido, a semana de 4 dias e horários móveis, focando na entrega e não apenas no cumprimento de horário.
Como se aplica a NR-1 na flexibilização do trabalho?
A NR-1 se aplica integralmente a qualquer modalidade de trabalho, exigindo que a empresa gerencie os riscos onde quer que o funcionário esteja atuando. No trabalho remoto, a responsabilidade do empregador sobre as orientações de segurança e a ergonomia permanece ativa.
O que a nova NR1 exige?
A nova redação da NR-1 exige o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) estruturado, materializado no PGR. Ela enfatiza a necessidade de identificar perigos e avaliar riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes, o que inclui os riscos psicossociais presentes no trabalho remoto.



