Você sabia que os riscos ergonômicos estão presentes em praticamente todos os ambientes de trabalho? Eles abrangem fatores físicos, organizacionais e psicossociais que comprometem o conforto, a eficiência e a saúde dos trabalhadores.
Quando não controlados, podem gerar dores musculoesqueléticas (DME), Lesões por Esforço Repetitivo e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT), queda de produtividade e aumento de afastamentos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as condições musculoesqueléticas estão entre as principais causas de mobilidade limitada, aposentadoria precoce e redução do bem-estar no trabalho.
Hoje, não há mais tempo para duvidar da necessidade de integrar a ergonomia à gestão estratégica da saúde ocupacional.
No contexto brasileiro, a NR-17 é a responsável por estabelecer parâmetros para adequar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos colaboradores.
Já a NR-1, por meio do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), define o sistema que organiza a identificação, avaliação e controle contínuo desses riscos.
O Canal de Acolhimento é uma ferramenta que complementa o monitoramento técnico, transformando dados em um ciclo robusto de prevenção e aprendizado contínuo.
Quer se aprofundar no tema?
Veja a seguir, como identificar, avaliar e controlar os riscos ergonômicos de acordo com a NR-17 e a NR-1. A construção de ambientes de trabalho mais seguros começa buscando informação!
Vamos lá?
Definição prática: o que são riscos ergonômicos
Os riscos ergonômicos são fatores presentes nas condições de trabalho que podem provocar fadiga física, estresse mental ou desconforto postural, comprometendo a saúde e o desempenho das pessoas.
Eles surgem quando há desequilíbrio entre as exigências do trabalho e a capacidade do corpo ou da mente para executá-lo com segurança e conforto.
Na prática, envolvem movimentos repetitivos, posturas incorretas, levantamento de peso, ritmo excessivo, monotonia, pausas insuficientes e exigências cognitivas intensas.
Mas, atenção! Não confunda risco com perigo. O Anexo I da NR-1 distingue esses dois termos:
- perigo é a condição ou tarefa que pode causar dano. Por exemplo, digitar continuamente sem pausas;
- risco é a probabilidade de esse perigo causar lesão ou adoecimento, considerando a frequência, duração e gravidade da exposição.
Desse modo, o objetivo da ergonomia é analisar a interação entre pessoa, tarefa e ambiente, para ajustar processos, ferramentas e organização do trabalho, reduzindo a probabilidade e a severidade dos danos.
Por que importa: impacto humano e financeiro
A gestão dos riscos ergonômicos é uma obrigação normativa que, na prática, se apresenta como uma estratégia para preservar a saúde dos colaboradores e otimizar os resultados da empresa.
Quando há controle eficaz:
- reduzem-se os afastamentos e o absenteísmo;
- aumentam o engajamento, a produtividade e a qualidade das entregas;
- diminui o retrabalho e o desperdício;
- o clima organizacional se torna mais colaborativo e saudável.
Quando os riscos ergonômicos não são controlados:
- crescem as queixas de dor, fadiga e estresse;
- ocorrem afastamentos frequentes e custos com substituição de funcionário;
- há aumento de passivos trabalhistas e de indenizações;
- a performance da equipe e a confiança na liderança diminuem.
Evidências científicas reforçam a relação entre riscos ergonômicos, saúde ocupacional e desempenho nas empresas.
Segundo o artigo publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem, das pesquisadoras Beatriz Suelen Ferreira Faria, Josiane Sotrate Gonçalves e Tatiana de Oliveira Sato (UFSCar), trabalhadores expostos a altos níveis de estresse e burnout apresentam risco 41% maior de desenvolver dor em múltiplos locais, o que impacta diretamente a produtividade e o bem-estar.
Exemplos de riscos ergonômicos
Nos mapas de riscos ocupacionais, os riscos ergonômicos são representados pela cor amarela, indicando os fatores ligados à organização do trabalho, às exigências físicas e cognitivas e às condições ambientais que podem causar desconforto, dor ou fadiga.
Eles podem estar presentes em diversas situações do dia a dia. Confira!
- Levantamento, transporte e descarga de materiais: excesso de peso, ausência de pausas, movimentos bruscos ou repetitivos;
- Mobiliário dos postos de trabalho: cadeiras sem ajuste, mesas em altura inadequada, monitores desalinhados e falta de apoio para os braços ou pés;
- Trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais: vibração constante, necessidade de força excessiva, ferramentas mal dimensionadas;
- Conforto no ambiente de trabalho: iluminação insuficiente, ruído contínuo, temperatura extrema e ventilação inadequada;
- Organização do trabalho: sobrecarga de tarefas, pressão por produtividade, pausas insuficientes e ritmo acelerado.
Como prevenir e minimizar os riscos
A prevenção dos riscos ergonômicos depende de uma abordagem integrada entre Gente e Gestão, Saúde e Segurança do Trabalho. O foco é adaptar o trabalho à pessoa, e não o contrário.
Para empregadores e profissionais de Gente e Gestão, algumas boas práticas incluem:
- promover avaliações ergonômicas periódicas dos postos de trabalho (AEP e AET);
- garantir mobiliário ajustável e equipamentos adequados às tarefas;
- estimular pausas ativas e rotatividade de funções;
- implementar treinamentos sobre ergonomia e alongamento laboral;
- reforçar a comunicação aberta, criando um Canal de Acolhimento para que colaboradores possam relatar desconfortos, dores e sobrecargas antes que evoluam para afastamentos.
A literatura científica reforça que ergonomia vai além do cuidado físico. A satisfação no trabalho e o senso de justiça atuam como fatores de proteção contra a dor e o adoecimento segundo o estudo publicado na Brazilian Journal of Pain.
Criar ambientes percebidos como justos e colaborativos reduzem os riscos ergonômicos.
“Investir em escuta, reconhecimento e gestão humanizada é o caminho para alcançar uma produtividade sustentável”, explica Cris Hohenberger, Chief Marketing Officer da Contato Seguro.
NR-17 na prática: organização do trabalho, AEP e AET
A NR-17 traz diretrizes para ajustar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, com foco na organização do trabalho, mobiliário, equipamentos e condições ambientais.
Entre suas ferramentas de aplicação prática estão a Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP) e a Análise Ergonômica do Trabalho (AET):

A norma também enfatiza aspectos de organização do trabalho, como:
- ritmo e intensidade das tarefas;
- tempo de ciclo e pausas;
- conteúdo das atividades e autonomia do trabalhador;
- comunicação clara de metas e responsabilidades.
Esses fatores determinam a carga física e mental do trabalho e, portanto, são itens obrigatórios nas estratégias de prevenção de distúrbios musculoesqueléticos e riscos psicossociais.

GRO: sistema que organiza a prevenção (NR-1)
O Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), previsto na NR-1, é a base do sistema de prevenção dentro das organizações por definir o ciclo contínuo de identificar, avaliar, controlar e monitorar os riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais.
A atualização da NR-1 pela Portaria MTE nº 1.419/2024 trouxe uma mudança importante. O subitem 1.5.3.2.1 determina que a análise das condições de trabalho deve considerar também as exigências da NR-17 e incluir fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho.
Outro ponto importante é a consulta e participação dos trabalhadores. A escuta ativa, seja em comitês, diálogos de segurança ou por meio de Canais de Acolhimento, passa a ser reconhecida como evidência formal de um sistema de prevenção maduro e participativo.
PGR: documento vivo que materializa o GRO
O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) é o documento que dá forma ao ciclo do GRO. Ele deve refletir, com clareza, as avaliações ergonômicas realizadas e os planos de ação decorrentes.
De acordo com a NR-17 e a NR-1 atualizada, o inventário de riscos do PGR precisa conter:
- os resultados da Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP);
- as revisões e recomendações identificadas pela AET, quando aplicável.
Já o plano de ação do PGR deve incluir:
- medidas de prevenção e adequações derivadas da AEP;
- recomendações específicas apresentadas na AET.
Assim, o PGR deixa de ser um arquivo formal e passa a orientar melhorias contínuas e integradas entre Saúde, Segurança e Gente e Gestão.
Controles que funcionam (hierarquia resumida)
Os controles ergonômicos seguem uma hierarquia de aplicação que privilegia ações coletivas e de engenharia antes das medidas individuais. A ideia é sempre eliminar ou reduzir o risco na fonte. Entenda a seguir!
- Coletivos/engenharia: redesign de postos de trabalho, mobiliário ajustável, automações leves e adequação do layout para reduzir esforços repetitivos e posturas incorretas;
- Administrativos: pausas regulares, rodízio de tarefas, metas realistas e balanceamento da carga de trabalho e do tempo de ciclo;
- Equipamentos de Proteção Individual (EPI): utilizados apenas quando o risco residual persistir;
- Treinamento dirigido: voltado a tarefas críticas e capacitação das lideranças para reconhecer sinais precoces de sobrecarga e intervir com segurança.
A hierarquia torna a prevenção mais eficaz e sustentável, reforçando a integração entre NR-17, GRO e PGR.
Riscos psicossociais na ergonomia
Os riscos ergonômicos não se limitam a posturas incorretas ou esforços físicos. Como vimos, eles também são influenciados pelos aspectos psicossociais do trabalho: a forma como as pessoas vivenciam as demandas, as relações e o reconhecimento no ambiente laboral.
Por exemplo, o artigo “Riscos ergonômicos e dor musculoesquelética em trabalhadores de limpeza hospitalar” (Revista Latinoamericana de Enfermagem) mostra que fatores organizacionais, psicológicos e sociais podem contribuir para Distúrbios Musculoesqueléticos Relacionados ao Trabalho (DME).
Na prática, alta demanda com baixo controle, metas abusivas, assédio, falta de reconhecimento e gestão autoritária aumentam o risco físico e cognitivo.
Esses fatores afetam tanto a postura corporal quanto a capacidade de concentração e recuperação do trabalhador.
A NR-1, ao integrar os fatores psicossociais ao PGR e remeter à NR-17, reconhece que ergonomia e clima organizacional são partes do mesmo sistema de prevenção.
Por isso, o Canal de Acolhimento tem papel estratégico. Ele é a rota segura para relatar dor, sobrecarga, assédio ou violência, permitindo uma resposta rápida e ações corretivas sem exposição.
Direitos e deveres
A prevenção dos riscos ergonômicos depende de responsabilidades compartilhadas entre trabalhadores e empregadores.
Trabalhadores têm direito a:
- informação sobre riscos e medidas de prevenção;
- participar de consultas e avaliações;
- recusar-se a executar tarefas em situações de risco grave e iminente, sem sofrer retaliação, conforme a Portaria MTE nº 342/2024.
Empresas devem:
- identificar perigos, adotar controles e manter registros constantemente;
- realizar AEP e AET quando necessário;
- treinar e comunicar as medidas preventivas.
Documentação e registros indispensáveis
A gestão ergonômica eficaz exige documentação organizada e atualizada. Os principais registros são:
- PGR atualizado, com inventário e plano de ação;
- AEP e AET com recomendações implementadas;
- registros de treinamentos, comunicações e evidências de medidas adotadas;
- integração com o PCMSO, quando houver agravos relacionados à ergonomia.
Canal de acolhimento: escuta segura e resposta rápida
O Canal de Acolhimento é uma ferramenta estratégica de ergonomia organizacional. Ele permite que colaboradores relatem dores, sobrecargas, insatisfações ou violências de forma confidencial e, se desejarem, anônima.
A ferramenta deve garantir:
- confidencialidade e triagem qualificada;
- prazos definidos de retorno;
- integração ao PGR, sem exposição de dados sensíveis.
Ao mesmo tempo em que o Canal de Acolhimento atende uma exigência de conformidade, também é um instrumento de cuidado e prevenção, que dá voz às pessoas e orienta decisões baseadas em fatos reais.
Fale com segurança e receba suporte. Use o canal de acolhimento.
Indicadores e metas
O monitoramento dos riscos ergonômicos deve incluir indicadores objetivos e metas claras. Listamos alguns exemplos, confira!
- Percentual de ações do PGR concluídas;
- Tempo médio de resposta a relatos;
- Incidência de queixas de dor musculoesquelética;
- Dias perdidos por afastamento;
- Taxa de readequação de postos de trabalho;
- Percentual de colaboradores treinados no prazo;
- Resultados das AEP e AET.
Plano de ação de 90 dias
Saiba como a sua empresa pode se prevenir dos riscos ergonômicos com um plano de ação de 90 dias:
0–30 dias:
- Triagem de hotspots ergonômicos;
- Realização da AEP;
- Revisão de postos e cargas de trabalho;
- Divulgação do canal de acolhimento;
- Alinhamento com lideranças.
31–60 dias:
- Ajustes rápidos (mobiliário, pausas, rodízio);
- Treinamentos direcionados;
- Registro de evidências;
- Abertura de AET quando aplicável.
61–90 dias:
- Auditoria interna;
- Consolidação de lições aprendidas;
- Atualização do inventário e planos no PGR;
- Definição de metas trimestrais e rotina de monitoramento.
Cuidar da ergonomia é cuidar das pessoas e, também, da sustentabilidade do negócio. A NR-17 e a NR-1 aplicadas de forma integrada oferecem um caminho prático e técnico para isso.
A abordagem ergonômica passa a considerar aspectos físicos e fatores psicossociais que influenciam diretamente a saúde e o desempenho.
Assédio, sobrecarga e falta de reconhecimento são tão lesivos quanto mobiliários inadequados ou jornadas mal distribuídas.
O Canal de Acolhimento pode atuar como um elo de confiança nesse processo, recebendo relatos de desconforto e situações de risco de forma segura e sigilosa.
Quando as pessoas são ouvidas e têm suporte, o resultado aparece em menos afastamentos, mais engajamento e um ambiente de trabalho realmente saudável.
Entre em contato com os nossos especialistas e saiba como implementar um Canal de Acolhimento seguro na sua empresa!
FAQ sobre riscos ergonômicos
Quando devo fazer AEP e quando AET?
A AEP é a etapa inicial de avaliação, enquanto a AET é obrigatória apenas quando a AEP indicar riscos relevantes ou quando houver reclamações, afastamentos, mudanças relevantes de processo ou de layout.
Como ligo ergonomia da NR-17 ao PGR da NR-1?
A NR-17 orienta como avaliar a ergonomia dentro das organizações e a NR-1 aponta onde registrar e monitorar os riscos. A AEP e a AET alimentam o inventário de riscos do PGR, que reúne as ações preventivas e corretivas. Assim, o cuidado ergonômico vira parte formal da gestão integrada de riscos.
Ergonomia cobre saúde mental?
Sim, a ergonomia abrange aspectos da saúde mental do trabalhador ao analisar a organização do trabalho e integrar os fatores psicossociais nas estratégias de prevenção.



